quinta-feira, 14 de maio de 2009

Ah! Os jesuítas

Sou professor de história em um colégio estadual que se dedica também a educação de jovens e adultos. Ontem, durante o horário das aulas, uma missa católica foi celebrada em homenagem as mães e alguns fatos me chamaram bastante atenção.

A maneira como os clérigos conseguem prender o público é fantástica, as pessoas os escutam com uma dedicação e respeito realmente impressionantes. Mesmo quando não tem a menor ideia do que eles estão falando.

Durante a missa foi lida uma passagem bíblica, atos dos apóstolos, essa passagem, se não me engano tirada do Antigo Testamento, fala de conversão. Em um trecho aparece a expressão “circuncidar” que alguns dos membros de uma tal comunidade citada no texto diz ser necessário como um último ato de conversão.

Eu fiquei realmente muito intrigado, o texto, apesar daquele ser um culto cristão da Igreja Católica, fala da conversão ao judaísmo. Imaginei quantas pessoas ali presentes tinham conhecimento disso, quantas pessoas que estavam ali ouvindo atentamente cada palavra dos clérigos conheciam o termo circuncidar.

Durante cinco aulas eu tentei fazer com que meus alunos do 1º ano do ensino Médio se interessassem pela história dos hebreus e me escutassem com o mesmo interesse a que eles dedicavam as falas dos sacerdotes. Diferente dos padres fracassei miseravelmente. Foi ai então que tive uma luz. Deveríamos voltar ao tempo em que os padres jesuítas se ocupavam da educação no Brasil. A atenção e o interesse que eles conseguem arrancar dos alunos nenhum professor é capaz. A educação estaria salva, no que diz respeito a indisciplina então, nem se fala. O silêncio era total, só quebrado quando o padre, que aliás não é ainda um padre, mas um diácono, imagina quando se tornar padre, pedia a participação do público.

Em um determinado instante do culto ele se dirigiu as pessoas e perguntou de uma tal mulher, mãe, que havia nascido na pequena cidade de Nazaré. As pessoas ainda tímidas respondiam em um tom de voz bem baixo, “Maria”. Ele então teve que perguntar mais algumas vezes até que o público tomasse coragem para se manifestar com um pouco mais de entusiasmo. Nesse momento se destacou a voz de uma mulher, que em um tom mais alto que os dos demais presentes, disse com uma dicção impecável, “Maria Madalena”. Maria Madalena!? Pensei, mas essa não é a tal seguidora de Jesus que alguns dizem, foi uma prostituta?

O diácono, obviamente estava se referindo a Maria mãe de Jesus e não a Madalena prostituta. No entanto diante da passividade da platéia eu até fiquei em dúvida. Na minha aula quando um aluno responde a uma pergunta qualquer com um mínimo de inexatidão os outros alunos se esgoelam em risadas e escárnios. Mas ali, diante da imponente figura sacerdotal, se quer cochicharam.

O momento alto da celebração, no entanto, foi quando o candidato a sacerdote leu um poema de Pe. Zezinho, uma celebridade da Igreja Católica, que fala das mães. “As mães, em geral, são carinhosas, atenciosas, cuidadosas, caprichosas, misteriosas, amorosas, caridosas, curiosas e, quando preciso, teimosas. Responsáveis, amáveis, adoráveis, abraçáveis, beijáveis, maleáveis, indomáveis, macias, ajustáveis, às vezes indecífráveis...” e por ai vai. “...Todos esses verbos para descrever as nossas mães”, disse o futuro padre. Eu fiquei petrificado, tal qual Jesus que transformou a água em vinho, o cara tinha transformado em verbos os adjetivos, e olha que ele ainda nem é padre heim?!?

É por essa e outras que considero os clérigos ideais para cuidar da educação nesse país. Pra tal tarefa só mesmo um milagre.


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